Campanha voltada para a proteção de animais em situação de risco promove educação ambiental e apoio a iniciativas de conservação da Mata Atlântica
Amigos, vocês sabem exatamente quantas espécies de animais ameaçadas de extinção existem no Rio de Janeiro? Mais de 250! Um cenário triste e alarmante se pensarmos que falamos de apenas um Estado.
Entre elas, estão 82 espécies de aves, 48 de peixes, 43 de mamíferos e tantas outras que englobam répteis, insetos e anfíbios. A maioria desses animais tem como habitat natural a Mata Atlântica, bioma de grande biodiversidade que cobre quase 30% do território do nosso Estado.
A extinção é um caminho sem volta e poucos conhecem a real situação da fauna fluminense (faça um teste com os seus amigos e familiares, levantea mesma pergunta que lhe fiz no início do texto). Por isso, é fundamental que esses dados sejam divulgados para que possamos nos conscientizar.
Esse é o objetivo da campanha Abrace Essas Dez, promovida pela Secretaria do Ambiente, que realiza e apoia ações emergenciais de preservação de dez espécies nativas da Mata Atlântica com maior risco de desaparecimento. Entre elas, está o mico-leão-dourado – espécie endêmica do nosso Estado, que há 30 anos é um símbolo da luta contra a extinção –, o lagarto-branco-da-areia, o formigueiro-do-litoral e o boto-cinza, espécie-chave da fauna do Rio de Janeiro, responsável pela sobrevivência de outros animais aquáticos.
A campanha foi desenvolvida em parceria com o Instituto Biomas e o Serviço de Educação Ambiental do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e a ideia é estimular a população a, literalmente, abraçar essa causa.
Para isso, realizamos um amplo trabalho de educação ambiental em comunidades e escolas e de divulgação em estabelecimentos públicos e instituições como delegacias, corpo de bombeiros e prefeituras. Além disso, a campanha oferece apoio a medidas compensatórias, a projetos de conservação da Mata Atlântica e exigem que o empreendedor, como contrapartida, invista na preservação da biodiversidade.
Entre as principais causas do processo acelerado de extinção desses animais estão:
- Desmatamento ilegal, que reduz e fragmenta áreas de habitação natural;
- Caça e pesca predatória;
- Poluição do solo e das águas dos rios, devido ao descarte incorreto do lixo;
- Poluição sonora causada pelos grandes polos industriais e embarcações;
- Degradação ambiental causada pelo crescimento urbano desenfreado.
Mas, esse cenário pode e deve ser mudado. Um exemplo disso é o mico-leão-dourado, que já havia sido desacreditado há alguns anos e hoje segue a sobreviver ao perigo da extinção. Conversei com o pesquisador e médico-veterinário Alcides Pissinati, diretor do Centro de Primatologia do Estado do Rio de Janeiro (CPRJ), ele concordou que há, sim, uma luz no fim do túnel, mas que o trabalho não pode parar.
“Há 30 anos trabalhamos pela preservação do mico-leão-dourado e depois de todo esse tempo conseguimos perceber uma melhora das condições de sobrevivência dessa espécie. Mas, por ainda estar ameaçada de extinção, precisa dos cuidados e atenção de todos.”
Desde 1979, o CPRJ atua na preservação de primatas e abriga na sua sede, inserida no Parque Estadual dos Três Picos, em Guapimirim, cerca de 230 exemplares de 25 espécies de primatas em situação de risco.
“Nosso foco é oferecer a esses animais as condições necessárias para que sobrevivam, resgatá-los e possibilitar uma criação adequada e também apoiar na preservação florestal”, explicou Pissinati.
Ele reforçou também a importância de que a população participe desse trabalho, divulgue-o e denuncie práticas ilegais que possam ameaçar o meio ambiente.
“Vejo, por exemplo, as unidades de conservação presentes no Estado como um ponto positivo nesse sentido, pois funcionam como importantes núcleos para irradiar conhecimento. A população tem que entender que as florestas e os animais não são inimigos do desenvolvimento, pelo contrário. É preciso preservar a nossa biodiversidade.”
Além disso, temos diversas ações em andamento no âmbito da Secretaria do Ambiente, que visam contribuir para a sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção.
Certamente, um dos maiores esforços que colocamos em prática para a preservação de dois animais muito importantes, que são o cágado e o surubim do Paraíba, foi a criação do Refúgio da Vida Silvestre do Médio Paraíba, que tem entre seus objetivos a proteção das espécies ameaçadas da região; a manutenção dos recursos hídricos; e a restauração escológica.
O processo de criação dessa importante unidade de conservação teve como estratégia a proteção de espécies raras e ameaçadas da flora e da fauna local; a restauração florestal com vistas à manutenção da quantidade e qualidade de água, com recuperação de rios, nascentes e pagamentos por serviços ambientais; e o incentivo ao uso público, educação ambiental e ecoturismo com incremento a economia local!
A ampliação e recuperação dos parques estaduais, que abrigam grande parte do bioma de Mata Atlântica do Estado, onde habitam as principais espécies ameaçadas;
Iniciativas de proteção da vida marinha, como o workshop realizado pelo Inea sobre a preservação do boto-cinza, para definir e promover ações voltadas para a sobrevivência de espécies.
O Rio de Janeiro vive um momento inédito no trabalho de preservação da biodiversidade marinha, no qual a Secretaria do Ambiente e INEA lutam pela preservação deste animais que são considerados espécies-chave para a manutenção de diversas outras espécies. .
Conheça e abrace essas dez!
O primeiro passo para preservar é conhecer esses animais, as suas condições de sobrevivência e o que os ameaçam. Como incentivo, foi criada uma cartilha da campanha com dados, curiosidades e fotos de cada uma das dez espécies que se encontram em alto risco de extinção.
O material foi produzido em conjunto com a Associação de Fotógrafos de Natureza (AFNatura) e contém fotos que realçam a beleza e características únicas desses animais.
Conheça um pouquinho das 10 espécies:
1. Jacutinga: ave de grande porte que costuma habitar copas de árvores;
2. Mico-leão-dourado: primata de pequeno porte, é uma espécie própria do Rio de Janeiro e se tornou o principal ícone da campanha contra a extinção no Estado;
3. Cágado-do-paraíba: espécie sensível, que se caracteriza pela cor intensa;
4. Surubim-do-paraíba: bagre de grande porte, considerada uma das poucas espécies nobres da bacia do Rio Paraíba do Sul;
5. Lagarto-branco-da-areia: réptil endêmico do Estado, própria de ambientes ricos em orquídeas, bromélias e cactos;
6. Formigueiro-do-litoral: única espécie de ave endêmica de restinga em todo o litoral do Brasil;
7. Muriqui: maior primata das Américas, é exclusivo do Brasil e conhecido por ser pacífico e sociável;
8. Boto-cinza: uma da espécies mais vulneráveis do litoral do Estado. Caso desapareça pode ocasionar o fim de diversas outras espécies, uma vez que está no topo da cadeia alimentar da região em que vive e mantém o equilíbrio. Saiba mais.
9. Tatu-canastra: maior e mais raro tatu do planeta, de hábitos noturnos;
10. Preguiça-de-coleira: se caracteriza por pelos longos e pretos ao redor do pescoço.
Siga também a página da Abrace Essas Dez no Facebook e confira mais informações sobre as espécies protegidas e as atividades promovidas pela campanha.
Levantamento de espécies ameaçadas no Rio de Janeiro
Para poder avançar nas ações de preservação, o nosso Estado, assim como todos os outros, precisava de uma lista atualizada das espécies ameaçadas para facilitar o controle e o trabalho de proteção dos órgãos ambientais.
Com isso, o setor de Ecologia do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) coordenou o levantamento das espécies ameaçadas de extinção no Estado. O trabalho contou com a participação de 120 cientistas especializados no estudo da fauna e também teve o apoio da Secretaria do Ambiente nesse processo.
Depois de uma análise detalhada de cada espécie, seu atual status de conservação, a categoria da ameaça e propostas de recuperação, foi publicada no Diário Oficial a Lista Oficial da Fauna Ameaçada do Estado do Rio de Janeiro. Nessa relação também se encontram as espécies de animais trabalhadas pela campanha Abrace Essas Dez.
Como fazer a sua parte
- Denuncie crimes ambientais, como tráfico de animais, e irregularidades que afetem o habitat natural das espécies como queimadas e a poluição causada por empresas;
- Procure participar de programas de educação ambiental na sua cidade;
- Conheça a biodiversidade local, visite unidades de conservação como os parques, que passam por ampliação e modernização para receber a população. E não deixe de seguir as recomendações dos guarda-parques para preservação do meio ambiente e da sua segurança;
- Ao fazer trilhas, não entre pela mata nem corte de galhos e folhas para abrir caminho, pois isso prejudica a vegetação e incomoda os animais, além de ser perigoso;
- Não toque e nem alimente animais em seu habitat natural, pois além de incomodá-los alguns alimentos podem causar intoxicação;
- Seja responsável pelo seu lixo e faça o descarte correto em casa e também durante os seus passeios;
- Quando for visitar a natureza, leve com você respeito e consciência. A Mata Atlântica e seus habitantes agradecem.
Preservar a natureza é uma questão de sobrevivência, não apenas para os animais e flora que ali habitam, mas também para a qualidade de vida de toda a população. Cada vez mais as autoridades percebem isso e, hoje, garantir a biodiversidade local é uma das maiores riquezas que um país pode ter.
Defender a nossa fauna da extinção é um dever de todos e juntos vamos virar essa página na história do Rio de Janeiro!
Um grande abraço,
André Corrêa