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De Olho no Lixo: uma nova realidade para a destinação de resíduos no Rio de Janeiro

De Olho no Lixo: uma nova realidade para a destinação de resíduos no Rio de Janeiro

Por meio de educação ambiental e reciclagem inclusiva,projeto promove conhecimento, cultura e geração de renda a comunidades do Estado

Amigos, imaginem se antes mesmo de descartar o lixo pensássemos em novas utilidades para dar a ele? Seria uma grande mudança cultural na forma como lidamos com os resíduos que geramos, e um ganho ambiental para o Rio de Janeiro, uma vez que teríamos melhores condições de saneamento, mais qualidade de vida e a nossa Baía de Guanabara mais limpa, visto que ainda há muito lixo descartado nos rios que se comunicam com ela.
Essa é uma mudança de comportamento necessária para o nosso Estado, que tem como grande desafio fazer com que o lixo pare de chegar na Baía e nas praias. Mas, que aos poucos vira realidade. O que antes era visto apenas como um problema, hoje passou a ser uma oportunidade para promover educação, cultura, arte e geração de renda para diversas famílias, por meio do projeto De Olho no Lixo.

Trata-se de um trabalho realizado sem um centavo de recurso público que pretende mudar o cenário de comunidades como a Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro e, recentemente, chegou a Roquete Pinto, em Ramos. O projeto é fruto da cooperação técnica entre a Secretaria de Estado do Ambiente, o Inea e o Viva Rio Socioambiental, com apoio da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).

Nosso foco é promover ações socioambientais que sensibilizem os moradores para o descarte correto dos resíduos sólidos e, principalmente, chamar a atenção para a importância da reciclagem. Isso é feito tanto de forma operacional, com a formação de Agentes Socioambientais dentro das próprias comunidades, quanto de forma lúdica por meio da música e moda sustentável.

Na Rocinha, onde o projeto começou, nos primeiros 40 dias de trabalho foram removidas 95 toneladas de materiais descartados nas ruas e valões da comunidade pelos 30 Agentes Socioambientais do projeto, todos moradores da Rocinha contratados pelo projeto.

O gráfico abaixo mostra os resultados de maio a novembro:

De olho no Lixo - coleta de resíduos na Rocinha em 2016Estamos falando de uma das maiores favelas da América Latina, com um histórico de acúmulo de lixo e uma geografia que dificulta a coleta.

Antes de começar o trabalho foi preciso mapear toda a rota do lixo, desde o descarte na comunidade até a chegada em São Conrado, e assim definir as áreas de atuação prioritárias. Um trabalho participativo que envolveu moradores, comércio e unidades escolares.

Mas, mesmo em locais de difícil acesso, como é o caso do Lajão, os resultados impressionam: mais de 80 toneladas de lixo foram recolhidas em 40 dias.

Veja o antes e depois na imagem abaixo:

Trabalho dos agentes  ambientais na Rocinha Esse é um trabalho que beneficia também a praia de São Conrado, já que menos resíduos chegam à praia. Alguns banhistas já dizem até mesmo observar menos lixo nas areias. Mas, se não contarmos com o apoio de todos, o que inclui os moradores do asfalto, nada será resolvido. Quando a chuva lava a cidade, o destino é o mar.

Aliás, a geração de lixo marinho é justamente a ponta do problema. Grande parte do lixo descartado indevidamente no Estado do Rio chega de alguma forma à Baía de Guanabara, que é formada por um sistema de rios e lagoas interligados. Por isso, o foco de atuação do De Olho no Lixo em breve estará nas áreas do entorno das 17 ecobarreiras instaladas nos principais rios que deságuam na Baía.

O sistema de contenção de lixo flutuante, que conta ainda com 12 ecobarcos, é um legado das Olimpíadas. Só em 2016, foram retidas quase cinco mil toneladas de resíduos. Mas, para que o trabalho seja efetivo e as ecobarreiras deem vazão para a quantidade de lixo que ainda existe, é preciso reduzir a quantidade de materiais que chegam até elas.

Essa é a proposta da atuação do De Olho no Lixo em Ramos, por exemplo. A barreira do Canal do Cunha, localizada próxima à comunidade Roquete Pinto chegou a remover cerca de 208 toneladas de lixo apenas em junho. Mas, a expectativa é reduzir a quantidade de resíduos que chega ao canal.

Para conscientizar a população nesse sentido, a ideia é capacitar 20 jovens da região para que atuem como Protetores da Baía de Guanabara. O grupo irá elaborar um plano com ações de educação ambiental e atuar nos principais problemas da comunidade em relação ao lixo. Além disso, serão realizados mutirões de limpeza nos manguezais e ilhotas do Canal do Cunha.

Nossa expectativa é estender o projeto De Olho no Lixo para outras comunidades do Rio de Janeiro, principalmente no entorno da Baía de Guanabara. Além disso, outras ações previstas são: implantar uma Central de Triagem de Resíduos (CTR) na Rocinha para promover a reciclagem inclusiva, criar um “lixômetro” para contabilizar a quantidade de lixo removida por mês e estabelecer uma comissão de acompanhamento composta pelo poder público, a sociedade civil e o setor privado em encontros bimestrais para discutir resultados, elaborar propostas e dar transparência a todo o processo que envolve a coleta e reciclagem do lixo nestas comunidades.  

Lixo vira arte na mão de moradores das comunidades

Além da coleta realizada pelos Agentes Socioambientais, o De Olho no Lixo promove na Rocinha e, a partir de janeiro, em Ramos duas iniciativas de educação ambiental que dão um destino mais criativo ao lixo: os cursos EcoModa e FunkVerde. As atividades gratuitas ensinam moradores a transformar garrafas PET, canos PVC, papelão e outros resíduos em roupas e instrumentos musicais.

O FunkVerde, coordenado pela Regina Café, já capacitou 27 pessoas e oferece oficinas de percussão e teoria musical. Já o EcoModa, coordenado por Almir França, já formou 43 moradores na produção de acessórios e peças de vestuário feitos a partir do reaproveitamento de tecidos, jeans usados e banners. No total, serão cinco módulos que somam 30 meses de duração.

O resultado do trabalho dos alunos da Rocinha foi apresentado em novembro com o desfile de uma coleção composta por 238 peças, entre elas vestidos, saias, bolsas e acessórios inspirados na cultura da própria comunidade. Foi gratificante ver os alunos do curso EcoModa e do Funk Verde formados e agora devidamente certificados para trabalhar com a produção de materiais sustentáveis.

O Agente Socioambiental da Rocinha, Marcelo Araújo, contou em uma entrevista para o G1 que depois que entrou no FunkVerde passou a levar uma vida mais consciente: "O FunkVerde mudou na minha vida a conscientização de reciclar esses materiais. De coisas que minha esposa dentro de casa fazia errado, como pegar o óleo e jogar na pia. Hoje em dia a gente pega o óleo e coloca dentro de uma garrafa pet", diz Marcelo.

À frente do curso, Regina Café diz que apesar das dificuldades do início, naturais quando se chega a uma nova comunidade, ter conseguido reunir pessoas interessadas no trabalho do FunkVerde foi o grande ganho desse primeiro módulo, que fechou com a gravação de um CD com músicas produzidas pelos alunos e amigos do projeto.

No início não foi fácil. As pessoas desconfiavam, não entendiam muito bem o nome. Mas, aos poucos descobriram que o FunkVerde é uma escola de música de possibilidades sonoras. Acredito que o grande resultado desse trabalho foi ter conseguido agregar esses moradores e torná-los alunos da escola”.

Ela contou também, em primeira mão, que há a possibilidade do curso alçar voos mais altos e entrar até mesmo na grade curricular escolar.

“Recentemente, recebemos a proposta da direção de uma escola na Rocinha para que o FunkVerde entrasse na grade curricular. Fiquei muito orgulhosa por conseguirmos um reconhecimento como esse logo no início e animada com a possibilidade de multiplicar o conceito da educação ambiental. Queremos mostrar ao jovem que existem formas de fazer o bem a sua família e ao meio ambiente, tirá-lo da ociosidade e mostrar a ele um outro mundo”.

O coordenador do EcoModa, Almir França, também reforça a importância dessas iniciativas para a inclusão social de jovens e adultos da comunidade.
“Capacitar o indivíduo para uma nova possibilidade de empregabilidade e exercício da cidadania é muito relevante. A Moda, por exemplo, representa a segunda maior economia do Rio de Janeiro e, apesar da crise econômica, ainda é um dos maiores geradores de mão de obra do Estado. É interessante ver como por meio da educação ambiental conseguimos também contribuir para outras áreas como trabalho e geração de renda. E esse projeto é uma forma de pensar o meio ambiente a partir da perspectiva do cidadão”.

Saiba mais como foi o evento de formatura dos alunos da Rocinha neste vídeo.

Outra cidade que também sofre bastante com o impacto da poluição na Baía de Guanabara e aposta na cultura como forma de mudar esse cenário é Niterói. Por meio do projeto Ecocultural estudantes da rede pública e da comunidade também se capacitam na produção de instrumentos e moda por meio do reaproveitamento de resíduos.

O projeto é uma cooperação entre a Secretaria do Ambiente e a Prefeitura de Niterói, por meio da Fundação de Arte de Niterói (FAN). E conta ainda com a parceria da ONG Campus Avançado.

No final de novembro foi realizada a cerimônia de entrega de certificados para cerca de 400 alunos do segundo módulo do Ecocultural. O evento teve o desfile de uma coleção de 289 peças sustentáveis produzidas pelos alunos do Ecomoda e uma apresentação dos alunos do EcoMúsica, que tocaram músicas famosas da MPB com instrumentos reciclados.

Sai mais barato pararmos de sujar

Quem tem experiência na área náutica sabe que qualquer serviço dessa natureza costuma ter um custo de operação caro. Para se ter uma ideia: para cada tonelada de resíduos coletados pelos ecobarcos são gastos cerca de 5.600 reais. Já o custo das ecobarreiras é de 300 reais por tonelada de lixo retido.

Como atuam as ecobarreiras na Baía de Guanabara?

As barreiras foram projetadas para reter lixo pesado como camas, sofás e geladeiras que, sim, ainda são jogados nos rios. Os modelos maiores contam com retroescavadeira para remover a grande quantidade de resíduos retidos. Ou seja, é uma estrutura complexa.

Vale a pena revermos nosso comportamento e cuidar do lixo antes que ele deságue nos rios e mares. Assim contribuímos para a verdadeira recuperação dos recursos hídricos e deixamos que, futuramente, sistemas como as ecobarreiras atuem apenas como forma de manutenção. Menos lixo descartado de forma indevida, menos lixo retido nas ecobarreiras. Pense nisso e contribua conosco para essa mudança.  

Melhorar a balneabilidade da Baía de Guanabara vai desde a melhoria do sistema público de esgotamento sanitário até a participação da sociedade em ações de educação ambiental. Por isso, quero chamar a todos para ficarmos de olho e nos apropriarmos dessa causa.

Curta a página do projeto no Facebook para acompanhar o andamento das ações, conhecer quem já faz parte, e saber como participar. Fique por dentro das novidades também pelas minhas redes sociais. Como diz o samba De Olho no Lixo: “pega seu lixo, joga na caçamba, fica de olho na gente que a gente é gente bamba”!

Grande abraço,

André Corrêa.

 

 

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