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Em 21 de janeiro de 2015 amanheci no estúdio do RJTV para conceder uma entrevista. No início daquele mês havia assumido pela segunda vez a Secretaria do Ambiente e a maior crise hídrica da história dominava o noticiário nacional. Na entrevista ao jornalista Flávio Fachel reconheci a possibilidade de racionamento de água devido a escassez que afetava os principais reservatórios de água que abastecem o Estado do Rio de Janeiro, mas descartei a iminência de tal medida.
Muitos esquecem, mas São Paulo, a unidade mais rica da Federação, já enfrentava o desabastecimento. O RJ poderia ser o próximo.
Teria pela frente um enorme desafio, mas enfatizei a importância da economia de água pela população e a necessidade de medidas para evitar o desabastecimento, sobretudo nas torneiras domésticas. Anunciei no Bom Dia Rio que iríamos priorizar o consumo humano.
Impossível não lembrar de 1999, quando havia acabado de assumir a Secretaria pela primeira vez e cerca de 20 dias depois ocorreu o desastre do Emissário de Ipanema, deixando impróprias para banho diversas praias da Zona Sul.
Desde o início fui totalmente transparente, atendendo centenas de jornalistas, atualizando a situação diariamente por meio das minhas redes sociais e assim pude tranquilizar parte da população.
Contexto da Crise Hídrica em 2014/16
O Rio de Janeiro enfrentava a pior crise hídrica de sua história, com baixos níveis de água em reservatórios como o Paraibuna.
A falta de chuvas e as mudanças climáticas com elevação do consumo foram apontadas como causas da crise.
A situação levou à preocupação com o abastecimento de água para consumo humano e industrial, com a possibilidade de interrupção do fornecimento para empresas.
Como secretário do Ambiente, destaquei a necessidade de medidas imediatas para evitar o racionamento, como a recuperação de bacias hidrográficas e a conscientização da população sobre o uso consciente da água.
Usei as redes sociais para alertar à população que economizasse água, evitando o desperdício, reconhecendo a gravidade da situação.
Apesar de descartar a iminência do racionamento, não desprezei essa possibilidade a longo prazo, caso a crise persistisse.
Implementamos medidas urgentes para superar a crise. O primeiro passo foi a criação de um Comitê de Emergência entre o órgão ambiental e as empresas do Complexo Industrial de Santa Cruz, que captavam água do Sistema Guandu para operar.
Trabalhamos pela obra da soleira submersa do Canal de São Francisco. Essa intervenção foi fundamental para economia de água.
Após muita articulação, as companhias construíram uma adutora para utilizar água de reaproveitamento.
Adotamos o uso do volume morto do reservatório Paraibuna e conseguimos administrar a calha do Paraíba do Sul para superar a baixa vazão.
Também lancei o programa "Pacto pelas Águas", visando a proteção das bacias hidrográficas e a gestão sustentável dos recursos hídricos. O programa visou a proteção de mananciais com o objetivo de aumentar a segurança do abastecimento público de água.
Suas ações foram voltadas para os 15 municípios da bacia do Paraiba do Sul, que abrange os municípios de Engenheiro Paulo de Frontin, Itaguaí, Japeri, Paracambi, Queimados e Seropédica e parcialmente, Barra do Piraí, Mangaratiba, Mendes, Miguel Pereira, Nova Iguaçu, Piraí, Rio Claro, Rio de Janeiro e Vassouras.
CONTORNAMOS A CRISE, MAS CADA GOTA AINDA IMPORTA!
Veja um dos vídeos que divulguei nas redes em 2015 sobre a Crise Hídrica:
O esforço realizado com a ajuda de diversos parceiros nos permitiu fechar o ano de 2016 com a economia de mais de três trilhões de litros de água.
Um exemplo foi a realização do pacto em nível federal para definir novas regras de funcionamento do Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul, que teve a participação da Agência Nacional das Águas (ANA), Secretaria do Ambiente, Inea, órgãos gestores de São Paulo e Minas Gerais, além dos comitês de bacia.
Durante esse processo contamos com a atuação do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP) o qual na época presidi pela segunda vez.
O CEIVAP promoveu ações de educação ambiental e debates entre poder público, usuários da bacia e organizações sociais sobre as finalidades das águas do Paraíba do Sul e as regras para seu uso.
O CEIVAP também tem o papel de viabilizar recursos para ações de recuperação ambiental, como por exemplo, a criação do projeto Água do Rio das Flores, lançado no final de 2016.
A Bacia do Rio das Flores é a principal fonte de abastecimento do município de Valença e esse rio é um dos principais afluentes do Paraíba do Sul. O objetivo do projeto foi recuperar as matas ciliares na região, medida fundamental para preservar mananciais estratégicos para o abastecimento.
A proposta era restaurar 610 hectares dessa área por meio do plantio de mais de 600 mil mudas de árvores nativas próximas às margens de rios e nascentes.
Esse projeto foi muito importante no contexto da Crise Hídrica e se diferencia por não ter um centavo de verba pública.
Vencer a crise hídrica foi muito maior do que pareceu. Uma vitória que representou a continuidade do abastecimento da população e o funcionamento de diversas empresas que em caso de colapso, poderiam gerar a perda de milhares de empregos.
Ao contrário do que diversas pessoas imaginam, a Crise Hídrica não acabou simplesmente com as chuvas que caíram no final de 2015. Muito trabalho foi feito e com apoio dos técnicos da Secretaria do Ambiente e do Inea, vencemos juntos esse desafio.
Grande abraço.
Deputado estadual André Corrêa