Apesar do abastecimento garantido durante todo o verão, Rio de Janeiro permanece em estado de alerta quanto à segurança hídrica
Amigos, entramos no período mais quente do verão, marcado por um clima seco e chuvas bastante irregulares. Essa é a época em que o nosso corpo mais pede por água e fica ainda mais claro como seria insustentável não termos mais esse recurso para viver.
É verdade que com as ações emergenciais de contenção da crise hídrica realizadas no passado estamos mais seguros em relação ao nosso abastecimento. Mas, aprendemos uma boa lição e acredito que ninguém quer lidar com um cenário de falta d’água novamente.
Por isso, diariamente a operação dos reservatórios da Bacia do Paraíba do Sul é monitorada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e os dados podem ser acompanhados por toda a população no site da Segurança Hídrica. Na última medição, o volume útil do reservatório equivalente era de 53,81%, mais do que o dobro da capacidade do mesmo período em 2016, que era de 24,07%.
Se hoje alcançamos um cenário hídrico mais estável foi por que realizamos, durante os últimos anos, uma força tarefa com a ajuda de diversos parceiros que nos permitiu fechar 2016 com a economia de mais de três trilhões de litros de água. Um exemplo foi a realização do pacto, em nível federal, para definir novas regras de funcionamento do Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul, que teve a participação da ANA, Secretaria do Ambiente, Inea, órgãos gestores de São Paulo e Minas Gerais, além dos comitês de bacia.
Durante esse processo contamos com a atuação do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), do qual sou presidente, que promoveu ações de educação ambiental e debates entre poder público, usuários da bacia e organizações sociais sobre as finalidades das águas do Paraíba do Sul e as regras para seu uso. O CEIVAP também tem o papel de viabilizar recursos para ações de recuperação ambiental e por meio desse trabalho conseguiu um aporte de cerca de 655 mil reais para a criação do projeto Água do Rio das Flores, lançado no final de 2016.
A Bacia do Rio das Flores é a principal fonte de abastecimento do município de Valença, no sul do Estado, e o rio que dá nome a ela é um dos principais afluentes do Paraíba do Sul. O objetivo do projeto é recuperar as matas ciliares na região, medida fundamental para preservar mananciais estratégicos para o abastecimento.
Apesar da Bacia do Rio das Flores ter cerca de 32% de sua área coberta por florestas, cerca de 66% da área total é utilizada por pastagens e atividades agrícolas, o que degradou a cobertura verde da região. A proposta é restaurar 610 hectares dessa área por meio do plantio de mais de um milhão de mudas de árvores nativas próximas às margens de rios e nascentes.
Da área total da Bacia do Rio das Flores (16.168 hectares), cerca de 19% corresponde a Áreas de Preservação Permanente (APP). A imagem abaixo mostra o quanto dessa região ainda tem presença de florestas e o que hoje se encontra degradado.
Como grande parte das áreas a serem recuperadas ficam dentro de propriedades particulares como sítios e fazendas, o ponto chave do projeto é a conscientização dos produtores rurais da região para aderirem ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), que permite identificar essas áreas. As visitas de divulgação e sensibilização já começaram e 23 propriedades aderiram ao projeto.
O gráfico abaixo mostra, em hectares, as áreas mobilizadas até o momento:
O Coordenador do projeto, Mauro Contrucci, contou que os proprietários rurais têm se mostrado favoráveis ao projeto e a fase de mapeamento das áreas a serem recuperadas já começou.
“Esse projeto é um dos mais importantes para a nossa região e se diferencia por não ter um centavo de verba pública. O processo executivo está em fase final de elaboração, já visitamos todas as propriedades que irão participar e começamos a fazer a coleta do solo para análise. Os técnicos da Fundação Educacional Dom André Arcoverde visitaram junto com a gente os proprietários rurais e a adesão foi imediata. Muitos deles estão com as minas de abastecimento de água secando em suas propriedades e o projeto vai beneficiá-los diretamente, pois vamos preservar, cercar e plantar nas nascentes.
As ações de envolvimento do projeto continuarão por todo o ano e a população tem papel fundamental para que os resultados aconteçam. Só vamos ter segurança hídrica quando entendermos que a preservação da água é responsabilidade de todos nós.
Crise hídrica custou 14 bilhões de dólares para empresas em um ano
Mesmo com 12% do volume mundial de água doce e as maiores bacias hidrográficas do mundo o Brasil, de forma geral, viveu a maior crise hídrica em décadas e o país sentiu isso no bolso. Um estudo feito pela ONG inglesa Carbon Disclosure Program no ano passado levantou que impactos que prejudicam a segurança hídrica como seca, inundações e poluição das águas custaram às empresas cinco vezes mais do que em 2015.
Isso fez muitos empreendimentos repensarem sua infraestrutura e processos para utilizar os recursos hídricos de forma mais eficiente e sustentável. Além disso, tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que favorecem as empresas com subsídios, redução de custos e diminuição de impostos em equipamentos que são utilizados no reuso de água, o que motiva essa mudança de comportamento.
Em algumas cervejarias, por exemplo – que têm a água como recurso fundamental da produção –, a readequação de processos e conscientização de funcionários têm ajudado a reduzir em cerca de 40% o consumo de água nas fábricas. E para diminuir a poluição dos rios, os efluentes gerados nas indústrias passaram a ser tratados.
A gestão hídrica também torna a produção mais econômica. Por isso, algumas empresas têm calculado a “pegada hídrica” da geração de seus produtos para identificar a quantidade de água utilizada na produção e adotar medidas de reutilização desse recurso.
Que tal nos prevenirmos do que remediar quando for tarde demais?
Hoje o nível dos reservatórios está acima do esperado, mas não podemos abaixar a guarda. Tanto nas empresas quanto em nossas casas é preciso continuar com o uso racional da água e evitar desperdícios. Estudos comprovam que mesmo com um consumo 20% menor de água nossa qualidade de vida é a mesma!
Por isso, vamos ficar atentos aos vilões do desperdício de água como lavar a louça com a torneira o tempo todo aberta, demorar muito no banho ou deixar a água correndo enquanto se escova os dentes. Para ter mais dicas de como fugir dessas armadilhas, que além de prejudicarem o planeta ainda deixam a conta de água mais cara, acesse a Cartilha de Uso Consciente da Água.
Vamos caminhar juntos, por mais um ano, rumo à segurança hídrica e qualidade de vida no nosso Estado!
Grande abraço,
André Corrêa