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Novo sistema de contenção e coleta de lixo na Baía de Guanabara retira 3 mil toneladas de lixo em seis meses

Novo sistema de contenção e coleta de lixo na Baía de Guanabara retira 3 mil toneladas de lixo em seis meses

Operação de ecobarcos e ecobarreiras foram intensificadas para remover lixo flutuante e apresentar ambiente seguro para a realização da Vela Olímpica nos Jogos Rios 2016.

Amigos, quem acompanha o meu trabalho na Secretaria do Ambiente sabe que as ações para melhorar a qualidade ambiental da Baía de Guanabara estão no centro das nossas atenções. A meta é deixarmos um legado que vá além das Olimpíadas e que permita ao Rio de Janeiro recuperar esse ecossistema no futuro.

Sempre fiz questão de deixar claro que a meta de 80% da Baía limpa até os Jogos Olímpicos não seria possível. Até porque a melhor forma de medir esse índice não é por números e sim pelos domicílios e cidades cobertas por saneamento básico.

Sei que há um déficit de credibilidade da população quanto a essa questão, mas a verdade é que não existe lixo zero em nenhuma baía do mundo. A despoluição de um ecossistema como esse é complexa e requer altos investimentos. É um equívoco dizer que a Baía de Guanabara estará totalmente limpa em menos de 25 anos e com um investimento menor que 20 bilhões de reais.

Recentemente, o jornalista Emanuel Alencar lançou o livro “Baía de Guanabara, descaso e resistência”, onde cita essa questão ao fazer um apanhado geral da situação e da utilização da Baía para as provas de vela nas Olimpíadas.

Na verdade, nunca duvidei da qualidade da água nas áreas em que serão realizadas as competições, devido devido à troca de águas natural da Baía com  a água do mar.

O canal central da Baía, por exemplo, apresenta condições para banho desde que o Rio foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos.

Mas, a grande preocupação para a realização das provas aquáticas é conter e retirar o lixo flutuante da Baía de Guanabara para não prejudicar as competições, e o esforço de pelo menos 10 anos de treinamento de um atleta olímpico. O Rio receberá mais de 300 velejadores e é nossa responsabilidade que todos tenham plenas condições de competir com segurança.

Por isso, desde os eventos-teste das provas de vela contamos com ecobarcos que operam na Baía. Atualmente, temos um total de 12 ecobarcos que trabalham em conjunto com um sistema de 17 novas ecobarreiras, que fazem a retenção do lixo flutuante que deságua na Baía.

O plano de trabalho para implantação desse sistema foi realizado de forma voluntária pelo Instituto Rumo Náutico, da família Grael, que mapeou os 17 rios responsáveis por 85% dos resíduos sólidos que eram levados para a Baía de Guanabara.

As ecobarreiras foram pensadas para reter lixo pesado como sofás, camas, geladeiras e TVs que, acreditem, são jogados nos rios. Por isso, a estrutura delas é feita de gradil de aço e as maiores ecobarreiras contam com retroescavadeira para remover a grande quantidade de resíduos retidos.

No Canal do Cunha, por exemplo, foram removidas 208 toneladas de lixo apenas em junho. Antes da implantação da última ecobarreira em julho, no Rio Estrela, em Duque de Caxias, já haviam sido removidas cerca de 2.400 toneladas de lixo flutuante.

Vocês podem ver mais sobre esse trabalho no vídeo da minha visita à Ecobarreira do Rio Meriti.

Além da contenção e coleta de lixo na Baía, é realizado pelo Inea o monitoramento da qualidade da água. O acompanhamento já identificou que na Marina da Glória, local de saída dos velejadores, a condição de balneabilidade foi recuperada com a conclusão da obra da Galeria de Cintura, o que também beneficia a Praia do Flamengo, que durante todo o mês de julho apresentou condições de banho.

Ainda assim, muitas pessoas me perguntam se há a possibilidade de aparecer lixo nas áreas da prova. Sim, existe. Mas, com todo esse trabalho, a probabilidade de que isso aconteça é baixa. O foco dos ecobarcos é justamente manter a limpeza das raias para as provas de regatas e estou otimista de que teremos uma competição justa e segura.

Coleta de resíduos na Baía permanecerá mesmo depois das Olimpíadas

Em outros países, que têm um problema de lixo até mesmo muito menor do que o da Baía de Guanabara, as ecobarreiras e ecobarcos são utilizados de forma permanente. Exemplos são Baltimore e Washington na Baía de Chesapeake nos Estados Unidos, assim como em Amsterdam e cidades da Austrália.

Baltimore, por exemplo, é o maior estuário do EUA e é um modelo a ser seguido pelo Rio de Janeiro, por ser bastante parecido com a Baía de Guanabara. A população dessa região é de 9,3 milhões de pessoas e abrange 13 distritos. Já no entorno da Baía, temos 8,6 milhões de pessoas em 15 municípios.

Entretanto, vale lembrar que sai mais barato parar de sujar do que gastar depois em ecobarreiras. Precisamos adotar a cultura de nos preocuparmos com o que acontece com o nosso lixo.

Só na cidade do Rio de Janeiro, um estudo da Comlurb identificou que 30% do lixo recolhido é coletado do chão. Esse mesmo lixo é o que vai parar na Baía de Guanabara e também causar as temidas enchentes, uma vez que dificulta o escoamento da água e faz com que resíduos cheguem às margens e leitos dos rios. No projeto Limpa Rio, por exemplo, removemos diversos materiais das margens e, nos últimos anos, já realizamos o desassoreamento de mais de 550 corpos hídricos em todo o Estado.

O projeto de melhoria da Baía de Guanabara não pode ser apenas do Governo e sim de todos. Por isso, em abril, realizamos a primeira de três consultas públicas com o objetivo de criar metas mais realistas para esse trabalho. A proposta é termos uma plataforma digital onde a população possa acompanhar, em tempo real, os avanços dos indicadores de qualidade ambiental e as principais fontes poluidoras.

De olho no lixo do nosso Estado

Contribuir para a Baía de Guanabara envolve ações que vão desde a melhoria do sistema público de esgoto até ações de educação ambiental que chamem a atenção das pessoas para o problema do lixo.

Na Rocinha, por exemplo, está sendo realizado um interessante trabalho sem um centavo de recurso público e por meio da parceria com a comunidade e a iniciativa privada. Nos 40 primeiros dias de trabalho, agentes socioambientais do projeto De Olho no Lixo removeram 95 toneladas de materiais descartados nas ruas e valões da comunidade.

O lixo recolhido é transformado em objetos de arte, moda e instrumentos musicais. Nosso objetivo com o projeto é fazer com que a população se aproprie da causa e tenha consciência de que a reciclagem traz benefícios ambientais e também sociais à comunidade.

A professora Olga Wehb, superintendente de Mudanças Climáticas da Secretaria do Ambiente, destaca o papel do reaproveitamento do lixo para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa, que são gerados pela decomposição desses resíduos.

“O que é apenas lixo para mim, sempre tem utilidade para outra pessoa. Por isso, é importante realizarmos a separação correta do lixo para que ele seja reaproveitado. O grande problema das mudanças climáticas hoje é a falta do consumo consciente.”

Olga nos explicou também que o lixo está entre os principais causadores do aumento de temperatura no planeta.

"A cada cinco anos, realizamos um inventário da emissão de gases de efeito estufa. O que percebemos é que a decomposição de resíduos sólidos emite uma série desses gases, que contribuem para aumentar a temperatura do planeta. Na última COP-21 (conferência do clima da ONU), foi feito um acordo para os países se comprometerem a limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. Mas, para reduzir as emissões de gases, também são fundamentais atitudes como a redução dos padrões de consumo, erradicação dos lixões e realização da reciclagem".

Já em relação ao saneamento, destaco duas principais obras realizadas por meio do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM):

Construção do Tronco Coletor Cidade Nova: responsável por captar o esgoto de seis bairros da região central da cidade do Rio e encaminhá-lo até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Alegria, no Caju. Cerca de 160 mil moradores serão diretamente beneficiados;

Sistema de Esgotamento Sanitário de Alcântara: cinco bairros de São Gonçalo serão diretamente beneficiados pela obra, que terá mais de 17 mil novas residências interligadas à nova rede e cerca de 30 mil domicílios com rede existente conectados à nova Estação de Tratamento.

A diretora socioambiental do INEA, Ana Paula Costa, explica que junto com as obras é realizado um trabalho de comunicação e educação ambiental com as comunidades da região: "Estamos realizando um trabalho intenso de conscientização socioambiental. O morador precisa entender que ao ligar a residência à rede oficial de esgoto está prevenindo a família de doenças e melhorando a sua qualidade de vida. Essas obras são para a comunidade, ela é a principal beneficiada".

Com essa mesma proposta, em Niterói proprietários de imóveis estão sendo notificados para ligarem suas casas à rede oficial de esgotos da cidade, por meio do Projeto Se Liga. O objetivo é acabar com as ligações clandestinas e combater práticas como o uso de fossas ou despejo sem tratamento no mar e lagoas.

Para o ex-superintendente da Baía de Guanabara do Inea, Paulo Cunha, mais do que arrecadar multas, o projeto tem a missão de conscientizar a população: “Importante destacar o percentual de sucesso de mais de 83% de imóveis que são notificados e se conectam à rede coletora, caracterizando que o Projeto Se Liga tem caráter educativo e de resultados. O alerta contra a má qualidade dos corpos hídricos continua, assim o maior desafio do projeto é a melhora ambiental na qualidade das águas”.

Minha expectativa é que as cobranças pela Baía de Guanabara não parem com as Olimpíadas. Por mais que os desafios continuem sendo grandes, a luta não está perdida e com a participação de todas as frentes – o que inclui governo e sociedade civil –, conseguiremos atingir as metas esperadas para a recuperação da Baía de Guanabara.

Conto com você!

 

Grande abraço,

André Corrêa.

 

 

 

 

 

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